quinta-feira, 23 de junho de 2016

Plebiscito sobre novas eleições: uma bandeira necessária.

"O pior cego é aquele que não quer ver."

Sejamos francos, essa resistência de setores dos movimentos sociais e da política em respaldar a bandeira do plebiscito por novas eleições tem se tornado um sério entrave na batalha contra o golpe. É justo dizer que no curso da luta política o pragmatismo puro não é o suficiente para os caminhos corretos, mas tampouco a necessidade ilusória de se blindar de sonhos e vontades que carecem de condições plenas de se realizarem na realidade concreta nos levará à melhor saída.

É preciso romper essa bolha. Se existe uma possibilidade de derrotarmos o Impeachment no senado hoje é a de que Dilma se dirija à sociedade brasileira, e aos senadores por consequência, e proponha que caso retorne ao Planalto, encampe a defesa do Plebiscito que consulte o povo sobre novas eleições presidenciais. Esse é o "bode expiatório" necessário pra que parlamentares indecisos satisfaçam suas justificativas ao voto contrário do impeachment. É isso, ou pura negociação fisiológica.Pois só Dilma tem legitimidade para construir um pacto democrático que dê ao povo o direito de reconstruir caminhos que superem a crise política no país. Ela voltará, mas para ouvir do povo quais caminhos seguir.

Sejamos sensatos. A direita já tomou o poder, e de lá sairá muito dificilmente. E ainda que milagrosamente Dilma conseguisse retornar sem mediações, que governabilidade existiria? Partiríamos pra mais uma guerra campal que devolveriam ao país uma crise permanente, um cabo de guerra, onde com pouca expectativas, o governo legítimo, retomado seu lugar, conseguiria abrandar, muito menos vencer. Os golpistas tem inúmeras cartas na manga. A seletividade dos julgamentos, uma possível reprovação das contas da campanha no TSE. Viveríamos um loop infinito de disputa política que só aprofundaria a crise no país.

Só não sejamos inocentes. Não se trata de quem virá a ser candidato ou potencial vencedor em novas eleições. "Mas a direita e o avanço conservador podem eleger um presidente legítimo!", poderiam dizer. Oras! A direita já elegeu seu presidente, e pior, indiretamente, dando o respaldo para governar sem que tenha diretamente responsabilidade para com o povo que se dirigiu às urnas, é um cheque em branco! Tratamos aqui de um dispositivo democrático, de participação popular. Se 54 milhões de brasileiros elegeram Dilma, porque é que esses mesmos 54 milhões não poderiam votar pra que hajam novas eleições? É a decisão na mão do povo! É uma proposta ampla, que agrega setores do congresso que votaram pelo impeachment, e que com sensibilização popular pode avançar ainda mais.

Sim, existem condições para que o congresso convoque um plebiscito. Mas isso deve partir da premissa de uma profunda repactuação democrática, e que deve ser conduzida por nossa legitima presidenta Dilma Rousseff, que, diga-se de passagem, só espera o respaldo de alguns movimentos sociais que ainda entravam essa pauta, para encampá-la. O que não existem são condições pra que a presidenta legítima retorne e construa um governo "pela esquerda" em um cenário político de extrema instabilidade e disputa sangrenta pela hegemonia.

Sejamos, portanto, sensatos. Se o navio está afundando essa é a última boia que restou. E no navio não refiro-me ao governo legítimo, mas ao Brasil como um todo. Chegou a hora de nos despirmos desse orgulhosismo militante, esse puritanismo e esse hegemonismo. Precisamos do plebiscito, como instrumento de articulação política para vencer no senado, como bandeira de agitação e ampliação das mobilizações e como instrumento eficaz de repactuação democrática no país. Que o governo legítimo retorne e o povo decida a saída da crise e os rumos do país!

domingo, 12 de junho de 2016

nas noites às vezes
o que me salva é a poesia
no ocaso das angústias
da passagem de mais um dia

a vida as vezes é assim



A vida as vezes é assim
tira-nos a cereja
sem ao menos oferecer
uma colher para devorar
tamanho alimento para a alma,
oferece aquém da vontade
transcendendo para outros planos
essa necessidade essencial
de ser feliz
sem ao menos contar
com o que poderá de vir

a vida as vezes é assim
apresenta muito mais do que se espera
mas desse mesmo jeito
impede que tenha tal privilégio:
usufruir do prazer que carece
sem antes tornar-se carente.
veja então esse caminho
que a vida lhe põe a frente
se avança para além do que se pode
logo já se dá um passo atrás

coloca-te em teu lugar
essa é a vida
e as vezes
ela é assim.