terça-feira, 24 de maio de 2011

Aumento da passagem, passe livre e movimento estudantil.

 Mais uma vez um feriado se passa com uma surpresa no final, aumento da tarifa do transporte público. Mas será mesmo que a palavra 'público' cabe aqui? Talvez tenhamos que repensar o significado dessa palavra: "pú.bli.co adj (lat publicu) 1 Pertencente ou relativo a um povo ou ao povo." (dicionário Michaelis Online).               De acordo com o significado do dicionário o transporte coletivo de Goiânia está longe de ser público, pois temos de pagar cada vez mais por péssimas condições enquanto empresários enchem seus bolsos e discutem entre eles, sem nenhuma intervenção popular, quantas notas ainda cabem nas suas maletas, e mais uma vez utilizando aquela velha estratégia do aumento em feriado, para que os trabalhadores que utilizam esse momento para se distanciar do trabalho e ter um tempo merecido de descanso, se esqueçam também do aumento.

  Reclamar do transporte coletivo em Goiânia já está virando um clichê, sempre reclamando do preço da passagem, da situação dos terminais, dos ônibus sujos e lotados, de linhas que faltam, de uma frota insuficiente de veículos, tudo isso tem total verossimilhança, e todo cidadão tem todo direito, e também dever, de apontar as falhas no sistema de transporte e lutar por melhorias. Espera aí, lutar? É nesse momento que se encontra o problema, a passividade da população é tamanha que essa situação desprezível no transporte coletivo de Goiânia passa batida, e o preço continua a aumentar, enquanto isso as pessoas xingam, esbravejam, se enfurecem em suas casas, nos seus trabalhos e criam um discurso muito belo de insatisfação, mas não vão a luta, não manifestam sua insatisfação, não brigam pelos seus direitos, param no discurso.
  
  Eis a grande importância que tem o movimento estudantil, não só para os estudantes, mas para todos os goianienses que utilizam o transporte coletivo. Pois é esse movimento que movimenta o maior número de pessoas em uma manifestação prática da luta pelos direitos dos cidadãos, especialmente no que se refere ao transporte. Além disso existem os sindicatos e movimentos sociais formados por trabalhadores, que tem também extrema importância nessa luta, mas que ultimamente estão apagados no cenário atual de manifestações em Goiânia. Portanto o movimento estudantil é também uma forma de representar o trabalhador nessa busca pelos direitos dos cidadãos, o que ocorre, entretanto, é algo que muito me entristece, trabalhadores mecanizados pelo sistema fecham seus olhos para o mundo à sua volta e pensam somente em traçar seu próprio caminho diariamente, e quanto uma manifestação estudantil cruza seu caminho desabam a agredir verbalmente os estudantes que estão lutando por benefícios que também os atingirão.

 Mas essa não é a pior situação, existe boicote ao movimento estudantil entre os próprios estudantes e as instituições de ensino, a massa estudantil que vai à luta pelos seus direitos nem se compara à 30 anos atrás, quando realmente universitários e secundaristas tinham olhos abertos a todo seu contorno, e se preocupavam com questões que não referiam somente a eles mesmos e à sua carreira acadêmica. Bom, muita coisa mudou de lá pra cá e o egoísmo dos estudantes é uma delas, o que dificulta muito as ações do movimento estudantil, que ironicamente luta por direitos que afetarão à todos estudantes e trabalhadores, e não somente à aqueles que participaram ativamente do movimento. E como se não bastasse a indiferença aos movimentos e manifestações de luta por direitos, estudantes e trabalhadores tentam desanimar os estudantes utilizando o discurso de que "nada vai mudar", de que será impossível obter o passe livre, puro conservadorismo.


  Eu acredito que a luta pelo passe livre estudantil é uma luta completamente válida, e que nos remete à 30 anos atrás quando os estudantes sofreram, mas na perseverança se mantiveram na luta até o fim pelo meio passe estudantil, e conseguiram, nesse tempo existiam também aqueles que desacreditavam no movimento e nos seus princípios. Devo admitir que como as pessoas mudaram, os tempos também mudaram, nossa luta não se equipara à dos anos 80, até mesmo porque eles passavam por um momento de ditadura. Entretanto permanece aquele conservadorismo que tenta barrar o movimento estudantil, dizendo que o passe livre é impossível de se obter. Mas a carne é forte, e eu acredito, assim como muitos outros, na causa estudantil, e sei que unidos os estudantes ainda podem conseguir muita coisa, pois quando os benefícios vierem, o mérito é em parte nosso, mas o usufruto é de todos.

 Enfim, o que tenho a dizer é que se juntem às manifestações, movimentos populares, sindicalistas, movimento estudantil, ou simplesmente unam-se a luta pelos seus direitos, você têm não só o direito de participar dessas lutas, mas também o dever. Se a população agir em conjunto e de forma organizada podemos alcançar nossos objetivos e melhorar a situação em que vivemos. Chega de humilhação, chega de ônibus lotado, terminais sujos e apertados, o transporte coletivo é público, e nós deveríamos estar pagando apenas pra que este melhorasse e não para que empresários possam enriquecer em seus escritórios com ar condicionado. Vamos lutar por um transporte realmente público, com controle popular, onde o preço que pagamos seja revertido em melhorias, e isso é possível, pois como diria Raul Seixas: "Sonho que se sonha só é só um sonho, sonho que se sonha junto é realidade".

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os românticos que me desculpem...

 Sim, os românticos que me desculpem, mas vivemos num mundo que de romântico não tem quase nada. Antes de tudo devo dizer àqueles que não entendem os vários sentidos da palavra Romântico, que nesse caso não se trata de flores, chocolates e versos, mas de uma visão de mundo muito comum nos dias atuais, principalmente entre os jovens, em que se enxerga o mundo "cor-de-rosa", onde tudo é tão bonito, em que o amor impera e no final tudo vai dar certo.

  O maior exemplo disso foi o recente "casamento real" que ocorreu na Inglaterra (qual eu havia prometido não falar sobre, mas que utilizo apenas como um exemplo), toda essa coisa de príncipe, princesa, cerimônias exageradas e um gasto abusivo com tudo isso, enquanto jovens garotas ao redor do mundo assistem e esperam ansiosamente pelo seu príncipe. A literatura e principalmente as produções áudio-visuais de grande circulação atualmente buscam sempre manter o foco no Amor, no final feliz de um casal que anda de mãos dadas pelo parque mas que nunca fez sexo.

  Meus caros, dou aqui minha humilde opinião, que sem dúvida é a de que o mundo real está longe do que conhecemos nos livros de Stephenie Meyer e nas novelas da Globo. A realidade está longe de poesias e rosas, de lamentações e crises existênciais. É uma frase bem comum que ressalto aqui, "a realidade é cruel!", e é por isso que devemos sair desse mundo paralelo criado por nossa própria imaginação, onde tudo é lindo, onde todos terão um final feliz. Chegou o momento de encarar a realidade, de perceber que o valor deve ser dado àqueles que estão realmente do seu lado e sempre estiveram, e não morrer na esperança de que alguém que sequer conhecemos poderá chegar um dia e fazer valer toda a espera que tivemos.

 O mundo está um desastre, e isso é claro. E enquanto ficarmos imaginando um dia em que ele irá melhorar, ou ficarmos esperando que algo ou alguém que seja superior a todos nós nos ajude, ou simplesmente desça do céu e acabe com todo o sofrimento, creio que pouca coisa mudará. Talvez pra você o mundo esteja uma beleza, e admito que a minha vida está muito boa, mas é exatamente por isso que me preocupo ainda mais com os rumos da nossa sociedade, como pode a minha vida estar assim tão boa (e de outros ainda melhor) enquanto existem pessoas que sofrem tanto, e que sequer tem oportunidades de superar esse sofrimento.

     Enquanto isso, aqueles que vivem bem, escrevem poesias, vivem em um mundo imaginário do romance e da paixão, e escrevem poesias sobre o seu sofrimento pessoal. É isso que eu chamo de egoísmo. A partir de que momento vamos parar de lamentar sobre nossas vidas para perceber que existem situações muito piores do que a nossa? Podem achar que estou sendo hipócrita aqui, talvez esteja sendo mesmo, mas o ponto de partida é aceitar que nós estamos vivendo em um mundo completamente hipócrita. Então esqueçam tudo aquilo que vocês viram na TV ou leram no Crepúsculo ou assistiram em Titanic, e percebam que o mundo está um caos, e quem vai acabar com esse caos não é um Deus, ou vários Deuses, mas o próprio ser humano, que é o Deus em que eu acredito, pois se consciente o ser humano tem a capacidade de superar a própria natureza.


  Estaria eu dizendo, então, que o romantismo não presta? Não, muito longe disso, digo apenas que esse romantismo exagerado, e sem fundamentos, onde tudo pode dar certo, não acrescenta em nada. Nossa existência está dividida entre o real e o abstrato, mas talvez o abstrato esteja muito bem cuidado, enquanto o real está sendo esquecido, porque não então utilizar toda essa imaginação para, ao invés de esperar que as coisas melhorem, fazê-las mudarem para melhor? É essa a minha proposta, de um mundo romântico, mas também realista.

obs: Só por curiosidade digitem "Romântico" no google images e dêem uma olhada, depois digitem "Realidade" e vejam a diferença.