terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A realidade é complexa,
nela somos só uma peça,
nas entranhas do universo
prefiro falar em verso,
o progresso que nos ajude,
mas vê se não se ilude,
com esse tanto de tecnologia,
é uma treta pra cada dia,
e essa tal de internet,
fica ligado ou se perde,
cem toneladas de informação
dizem que é a mente em expansão
com esse tanto de conhecimento,
me sinto cada vez mais lento,
e não deveria ser o inverso?
aqui anda tudo meio controverso,
estranho mesmo é a consciência,
porquê ela não avança, junto com a ciência?
a rede social que conecta muita gente,
mas com tanto ódio à quem pensa diferente,
mais de mil sites com informações,
vários fatos, versões, visões, opiniões
e ainda assim nos enganamos
sem saber se é verdade, já compartilhamos,
de qualquer jeito a gente insiste,
no instagram jamais pareça triste,
e se for pra opinar, é um esculacho,
ao invés de pesquisar, eu falo o que acho,
se é virtual então tá tudo certo,
apago tudo com aquele botão que aperto,
mas atrás da tela não tem control z,
na vida real quem perde sou eu e você,
e quando, finalmente, esgotarem as aparências
onde estarão nossas essências?

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

a angústia dói
o sofrimento arde
mas o que seria da poesia
se não fossem esses poetas
os que sofrem
de amor, de paixão
de angústia
de solidão

a poesia só se poetiza
quando o poeta abre o peito
e atira, em palavras,
toda sua dor.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

A entrega do Pré-Sal: um realinhamento global.

Estamos próximos de observar (e resistir) a mais um absurdo no Congresso Nacional e na Presidência (Golpista) da República  no Brasil. A votação do PL 4567/16 que altera as regras para a exploração de petróleo e gás natural do pré-sal, extinguindo a atuação obrigatória da Petrobras em todos os consórcios formados para a produção nessas áreas.  Reunindo alguns dados concretos é possível compreender o porquê  de não existir necessidade dessa mudança e como se criou um falso discurso para sustentar uma decisão que na verdade não se preocupa com nosso petróleo e tampouco com a Petrobrás, mas com acordos globais e geopolíticos com grandes potências e multinacionais:

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1- AS DIFICULDADES FINANCEIRAS QUE A PETROBRÁS ENFRENTA NÃO ESTÃO EXCLUSIVAMENTE RELACIONADAS À CORRUPÇÃO:

Nos últimos anos houve uma crise MUNDIAL no comércio do petróleo, e isso se demonstra pela variação negativa de 67% no preço por unidade dos barris de petróleo entre 2012 e 2016, saindo de uma média de US$ 111,63 em Janeiro de 2012 para US$ 33,04 no mesmo mês de 2016 (http://br.investing.com/commodities/brent-oil-historical-data). Com o detalhe de que nem por isso os Estados Unidos pararam seus ataques ao Oriente Médio com objetivo de obter mais petróleo.

A crise mundial e a queda no preço do barril já são grandes motivos para entender as dificuldades na estatal, mas ainda assim criou-se uma espetaculização da Operação Lava Jato que pode também ter objetivos de enfraquecer a Petrobrás, para mais facilmente privatizá-la e/ou facilitar entrada de grupos estrangeiros na exploração em terras brasileiras.

2- A PETROBRÁS NÃO ESTÁ EM DECADÊNCIA

Apesar das suas dívidas, que diga-se de passagem também existem em grandes empresas privadas, a Petrobrás continua batendo recordes de produção diário de barris de petróleo, com uma produtividade crescente a cada mês, só na camada do Pré-Sal a produção diária aumentou do recorde de 1,060 milhão de barris de petróleo em Julho de 2016 para 1,099 milhão em Agosto de 2016 (http://www.anp.gov.br/?pg=83006&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&1475622598035). Além disso a estatal continua desenvolvendo pesquisas tecnológicas e encontrando novos campos de exploração (http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2016/03/petrobras-encontra-maior-coluna-petroleo-descoberta.html).

3- O PREÇO DO BARRIL JÁ APRESENTA SINAIS DE CRESCIMENTO

Contrário ao pessimismo que tentam criar, o mercado do petróleo já passa a apresentar fortes sinais de crescimento no preço do Petróleo: de Janeiro à Setembro de 2016 houve uma variação positiva de 37% no preço do barril, com uma média de US$ 34,74 em janeiro e U$S 49,06, além disso todas as projeções de investidores, bancos e analistas é de uma crescente nos preços (http://br.investing.com/commodities/brent-oil-forecasts). Com isso somado ao aumento da produtividade da Petrobrás o resultado da equação só pode ser: lucro exponencial.

4- A PL 4567/16 É UMA ENTREGA DA MATÉRIA PRIMA NACIONAL

Com base nos dados apresentados acima, que são apenas um resumo da ópera, é possível observar que a retirada da obrigatoriedade da Petrobrás como operadora dos campos em regime de partilha do Pré-Sal não se justifica pelo discurso da fragilidade da estatal. Pelo contrário, fica claro como com a retomada do crescimento do preço do barril e a crescente necessidade dessa matéria prima no mundo, a abertura à multinacionais estrangeiras só seria benéfico à elas mesmas: um valor de produção mais baixo em momento de alta dos preços.

O que então estaria em jogo?

Observemos os elementos geopolíticos dessa trama: o PL em questão foi apresentado por até então Senador José Serra, quando Dilma Rousseff ainda era a Presidenta da República (legitimamente eleita), mas já com o impeachment em curso. É sabido que um dos grandes enfrentamentos da presidenta, da qual em outros momentos ela tentou reconciliar, foi com o capital financeiro estrangeiro. Além disso o Brasil vinha se tornando cada vez mais um país desenvolvido (junto com os BRICS) como uma alternativa perigosa ao eixo das potências (EUA e Europa).

É notável que essas forças estrangeiras participaram das articulações que depuseram a Presidenta da República Dilma Rousseff, e que obviamente tinha interesses em sua derrota e na tomada do poder por Michel Temer, que, curiosamente premiou o autor da legislação supracitada em Ministro das Relações Exteriores. Recentemente, ambos foram vistos discutindo termos com empresários estrangeiros do ramo petrolífero.

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Nesse sentido essa movimentação trata-se de algo ainda mais profundo, um reposicionamento do Brasil no campo geopolítico mundial, realinhando-se às grandes potências capitalistas, partindo de uma rearticulação na exploração da matéria prima mais desejada do mundo nos dias atuais: o petróleo.

Portanto, barrar a PL 4567/16 vai além de preservar nossas riquezas, ainda que esse já seja motivo suficiente, mas trata-se de manter o Brasil em rumos diferentes do que o imperialismo deseja para nós. Já passamos tempo demais submissos à colonizadores e demos ainda pouquíssimos passos rumo à soberania e à verdadeira emancipação nacional. Esse projeto significará, portanto, um retrocesso incalculável à todos esses valores tão fundamentais para nosso povo e nossa pátria.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

em outros embalos
eu até gingo e tropeço
mas só com você
sei dançar no ritmo certo

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Ensaio sobre a liberdade de amar.

       

  Liberdade e amor. Talvez sejam essas as aspirações mais desejadas pela humanidade. Ainda que nas formas mais perversas, ou se quer ser livre ou se quer amar e ser amado. O dinheiro dá liberdade (mesmo que falsa), o poder nos dá sensação de sermos amados (ainda que não seja amor verdadeiro). Mas são também esses os sentimentos mais distantes de serem compreendidos e plenamente alcançados, durante tantos séculos de busca, sempre pesaram sob nós os grilhões da tradição, da moralidade, dos valores baseados na propriedade e nas relações de produção, mas ainda assim encontramos quem se esforce para romper as correntes e voar rumo ao infinito onde não haverá limitações sobre amar e ser livre.

Ser livre, amar e ser amado são condições que perpassam muitos dos aspectos da vida e das relações humanas, dentre eles as relações sexuais e afetivas. Esse seja talvez um dos principais elementos da felicidade humana, pois combate um dos maiores males que nos pode afetar: a solidão; e assim através da companhia nos dá o prazer daquilo que torna as coisas da vida e da natureza mais belas: o compartilhamento. E isso poderá estar imerso numa boa dose de afeto, prazer, carinho e tesão, atributos que dão sentido à beleza de se viver, e vivendo, de sentir.

Mas obviamente, mesmo nossos desejos mais puros, os elementos mais belos dos sentidos e da natureza tendem a ser regulados, nas relações humanas, pelas condições históricas e sociais. Por isso desenvolveu se uma determinada forma de amar e ser amado. A história da família e da propriedade bem explicam como se chegou ao domínio moral e cultural da monogamia no ocidente, como se arrasou a possibilidade da liberdade no amor e se enquadrou em paredes quase intransponíveis a forma com que os homens e mulheres deveriam se relacionar.

Houveram tempos em que essas paredes não existiam, em outras ocasiões talvez fossem paredes em outros formatos. Mas o fato é que há séculos estamos enclausurados nessa forma quadrada de amar. Aos poucos vão surgindo novas possibilidades, novas experimentações e diferentes formas de se relacionar. Infelizmente o concreto que dá suporte às paredes que nos esmagam são fortes demais para que a sociedade reconheça o amor em sua essência, e estreitas o suficiente para que nós mesmos, que queremos rompê-las, tenhamos dificuldades em saber por onde sair.

Mas de uma maneira ou de outra, a gente se aperta, chega pra lá, volta, para, vai em frente e aos poucos vai se libertando dessa maldição. Assim eu pude chegar a algumas conclusões: o amor é múltiplo e fluído, tem significados transcendentais e só pode se exercer por completo se assim estiver acompanhado da liberdade.

A solidão é a antítese. A busca pela companhia é a tese. O relacionamento é a síntese. Durante muito tempo não consegui compreender que diáletica não é o mesmo que dualidade. É justamente a mudança, é o sólido que se desmancha, é o todo e não o específico. São as múltiplas possibilidades. Será possível amar várias pessoas? E distribuir sua atenção, seu afeto, sua sinceridade a todas elas? É inexplicável, intangível. Por isso o amor é fluído e transcendental, por isso não pode ser classificado, não pode ser alcançado, só pode ser sentido, de múltiplas maneiras. É atemporal, vai e vem, é e depois não é, e um dia muda. Não tem espaço, ultrapassa qualquer lugar.

Mas ainda assim existe a solidão. O que é o ciúme se não o medo de ser abandonado e uma forma instintiva de se proteger. A vontade de a cada momento querer sentir provado o afeto por ti, o querer ser único, fazer a diferença e ser buscado por alguém. Quem de nós não quer ser lembrado por outra pessoa como alguém indispensável? Mas ser único, talvez não seja ser exclusivo. E pode até ser que se queira exclusividade. Mas e depois? O futuro pode nos reservar encontros inesperados, e já não existe mais exclusividade para nós. O que se espera então daquela outra pessoa que já lhe amava?

O respeito deve ser para nós muito mais do que o orgulho. Nosso sentimento deve ser muito mais real do que o orgulho. Devemos nos permitir a sentir o que realmente queremos e sermos felizes assim. Precisamos acreditar que o valor do amor é muito maior do que o da exclusividade ou da preferência, precisamos acreditar que exista no amor várias formas de dedicação e afeto, e assim acreditar no amor que sentem por nós. E acreditar nisso é ser livre para amar sem preocupações e sem restrições e entender que ser amado é o suficiente para não estar só.

Mas amar é também compreender que o amor sempre será plural. E que amar é querer bem e é querer livre quem se ama. Por isso não se basta que o amor satisfaça só a nós mesmos, é preciso romper a barreira do egoísmo e compreender o amor e a liberdade como algo que só se atinge coletivamente e isso se trata de responsabilidade. Porque ainda que o amor e a liberdade sejam os sentimentos mais preciosos, podem também ser os mais perigosos. Então se se ama e quer ser livre é preciso ser cuidadoso, consigo e com quem ama.

O amor e a liberdade estão além do que conseguiu chegar a compreensão humana até agora. Mas é certo que cada um deva exercitar o seu amor de acordo com a sua própria liberdade e vontade, desde que compreenda sempre sua relação dialética. Assim quem sabe, pra além da afetividade, possamos cada vez mais amar a humanidade e lutar pela liberdade, sendo felizes por não estarmos sozinhos e dando sentido às nossas vidas com as emoções mais puras.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A participação da imprensa brasileira no Golpe de 2016

A avaliação sobre a evolução das ferramentas de comunicação em massa e o desenvolvimento tecnológico das corporações da informação, isto é, da mídia e da imprensa, deve ser assunto fundamental para a compreensão das recentes articulações políticas que engendraram em um golpe institucional no estado democrático de direito do Brasil, ou da deposição de uma Presidenta da República por vias conspiratórias.

A imprensa, também apelidada como o Quarto Poder da República, tem o seu modus operanti próprio no Brasil, o tamanho poder desregulado que aqui ela concentra é motivo de curiosidade para todo o resto do mundo, onde os meios de comunicação têm sido cada vez mais regulamentados de acordo com a diversidade de opinião e a descentralização da informação cuja modernidade e o avanço tecnológico insistem em acelerar cada vez mais.

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Os múltiplos elementos que configuraram a trama dessa conspiração do impeachment criaram um verdadeiro Kraken (um monstro da mitologia grega, parecido com um polvo gigante com inúmeros tentáculos enormes), cujos tentáculos podem se encontrar por todos os lados e que envolvem o judiciário, o legislativo e outras corporações como a própria Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal de Contas da União e isso sem falar nos atores internacionais, do qual certamente os Estados Unidos são protagonistas. Tamanha concentração de poder faz com que a análise da construção do impeachment no Brasil tenha a imprensa também como uma integrante fundamental desse processo.

A compreensão histórica, como sempre, se faz necessária como uma ferramenta para um entendimento mais aprofundado no presente do papel de organizações que permearam os processos políticos da constituição do nosso país, justamente pela forma que se comportaram em outros momentos do passado. Nesse sentido devemos avaliar a influência imprensa em outros episódios importantes da história política do Brasil e ao mesmo tempo refletir sobre como ao longo do tempo as ferramentas e os avanços tecnológicos facilitaram ainda mais a sua participação, possibilitando inclusive que seus tentáculos e seu manto da (des)informação se estendesse por um número inimaginavelmente maior de pessoas e de uma maneira tão mais ágil quanto jamais poderíamos conceber.

Ora, há mais de 60 anos um Presidente da República já havia sentido como seria fundamental a participação da imprensa em um processo conspiratório, e a capacidade que esses meios de comunicação sempre desenvolveram de criar, manipular ou desvirtuar as informações de maneira sútil para obter fins desejados. Getúlio Vargas caiu nas garras de Lacerda e da mídia da época, que tramaram com os opositores de seu governo e conseguiram criar uma sustentação que ganhasse lastro na consciência e no imaginário popular, para que enfraquecido, o presidente fosse levado à derrota quase que por conta própria.

Resultado de imagem para imprensa brasileiraNão por falta de vontade das elites e dos militares um golpe militar foi adiado por mais 10 anos, quando em 1964 se consolidou usurpando o legítimo mandato de João Goulart. E lá estava a imprensa novamente, com condições ainda melhores para criar uma narrativa que gerasse um sentimento sine qua non aos seus objetivos. 


Nenhuma transformação política ocorre efetivamente sem que com ela existam mudanças também em outras esferas da sociedade, fundamentalmente balizadas pelas relações sócio-econômicas e de produção, mas que buscam espaço também na consciência e no imaginário popular, já que as grandes transformações exigem uma fundamental mobilização da coletividade social, isto é, das massas, e desde que esse elemento essencial não esteja convencido da mudança (ou da manutenção de um status quo) tal desejo não se alcançará, e por isso a imprensa é tão fundamental: a disputa de consciência.

Tais reflexões só podem desaguar no fatídico momento político em que vivemos, talvez num recorte mais amplo, possa se estender à Junho de 2013, onde a presença da imprensa na disputa da linha política das ruas foi nítida e escancarada. Mas passados mais de 60 anos desde o suicídio de Getúlio e mais de 50 anos desde o Golpe Militar, os aparatos tecnológicos que podem gerar e disseminar a informação são muito mais sofisticados e por isso aceleram os processos dinâmicos de transformação de paradigmas do pensamento humano.

A entrada da imprensa com mais assertividade na construção da linha política que mobilizou as pessoas às ruas e a forma com que isso se direcionou à disputa do poder foi fatal. Os grandes oligopólios de comunicação do Brasil, que muito diferente do que defende o livre-mercado, não apresentam absolutamente nenhuma chance para concorrentes, apostaram toda sua estrutura para criar uma narrativa política própria, que convencesse a população brasileira de seu próprio programa político, sem lhes apresentar outras alternativas de reflexão. E o objetivo era um só: derrotar o projeto que se instalou no centro do poder do estado brasileiro, os focos eram Lula, Dilma, o PT, a esquerda, e em grande escala todo o projeto de nacional-desenvolvimentismo progressista.

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Usaram toda sua expertise daqueles que há dezenas de anos constroem interpretações, selecionam e disseminam informações à sua própria sorte e fazem parte, obviamente, do jogo do poder, ilude-se quem acha que não. Foram sagazes. Souberam dissecar e apontar as lideranças que precisavam ser abatidas, transformaram problemas sistêmicos e históricos da política brasileira em crimes dolosos e personificados, fizeram da informação um objeto a ser olhado por um telescópio defeituoso, equívocos desvirtuados e ampliados à uma escala que deixaria qualquer um abismado. E com o monopólio da informação e todas ferramentas a seu dispor, estavam com todas as condições necessárias.

E assim foi. Disputaram e criaram uma narrativa absurdamente modelada à sua vontade, criaram um clima entre a população e inflavam a cada momento, jogavam subjetivamente às bandeiras e as análises políticas e econômicas que elaboraram, e logo as ruas estavam ocupadas ao som de suas próprias bandeiras. Esse é mais um do elo dessa longa corrente do golpe, a consciência do povo é elemento fundamental e deve ser entendido como parte do processo de construção desse absurdo que vivemos hoje e que tem respaldo entre muitas pessoas. Isso ressalta a importância de continuarmos lutando por uma comunicação mais democrática e de estarmos cada vez mais elaborando uma contra-informação que seja honesta e justa, para contestar esse projeto atrasado e elitizado apresentado pelo monopólio da imprensa.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Plebiscito sobre novas eleições: uma bandeira necessária.

"O pior cego é aquele que não quer ver."

Sejamos francos, essa resistência de setores dos movimentos sociais e da política em respaldar a bandeira do plebiscito por novas eleições tem se tornado um sério entrave na batalha contra o golpe. É justo dizer que no curso da luta política o pragmatismo puro não é o suficiente para os caminhos corretos, mas tampouco a necessidade ilusória de se blindar de sonhos e vontades que carecem de condições plenas de se realizarem na realidade concreta nos levará à melhor saída.

É preciso romper essa bolha. Se existe uma possibilidade de derrotarmos o Impeachment no senado hoje é a de que Dilma se dirija à sociedade brasileira, e aos senadores por consequência, e proponha que caso retorne ao Planalto, encampe a defesa do Plebiscito que consulte o povo sobre novas eleições presidenciais. Esse é o "bode expiatório" necessário pra que parlamentares indecisos satisfaçam suas justificativas ao voto contrário do impeachment. É isso, ou pura negociação fisiológica.Pois só Dilma tem legitimidade para construir um pacto democrático que dê ao povo o direito de reconstruir caminhos que superem a crise política no país. Ela voltará, mas para ouvir do povo quais caminhos seguir.

Sejamos sensatos. A direita já tomou o poder, e de lá sairá muito dificilmente. E ainda que milagrosamente Dilma conseguisse retornar sem mediações, que governabilidade existiria? Partiríamos pra mais uma guerra campal que devolveriam ao país uma crise permanente, um cabo de guerra, onde com pouca expectativas, o governo legítimo, retomado seu lugar, conseguiria abrandar, muito menos vencer. Os golpistas tem inúmeras cartas na manga. A seletividade dos julgamentos, uma possível reprovação das contas da campanha no TSE. Viveríamos um loop infinito de disputa política que só aprofundaria a crise no país.

Só não sejamos inocentes. Não se trata de quem virá a ser candidato ou potencial vencedor em novas eleições. "Mas a direita e o avanço conservador podem eleger um presidente legítimo!", poderiam dizer. Oras! A direita já elegeu seu presidente, e pior, indiretamente, dando o respaldo para governar sem que tenha diretamente responsabilidade para com o povo que se dirigiu às urnas, é um cheque em branco! Tratamos aqui de um dispositivo democrático, de participação popular. Se 54 milhões de brasileiros elegeram Dilma, porque é que esses mesmos 54 milhões não poderiam votar pra que hajam novas eleições? É a decisão na mão do povo! É uma proposta ampla, que agrega setores do congresso que votaram pelo impeachment, e que com sensibilização popular pode avançar ainda mais.

Sim, existem condições para que o congresso convoque um plebiscito. Mas isso deve partir da premissa de uma profunda repactuação democrática, e que deve ser conduzida por nossa legitima presidenta Dilma Rousseff, que, diga-se de passagem, só espera o respaldo de alguns movimentos sociais que ainda entravam essa pauta, para encampá-la. O que não existem são condições pra que a presidenta legítima retorne e construa um governo "pela esquerda" em um cenário político de extrema instabilidade e disputa sangrenta pela hegemonia.

Sejamos, portanto, sensatos. Se o navio está afundando essa é a última boia que restou. E no navio não refiro-me ao governo legítimo, mas ao Brasil como um todo. Chegou a hora de nos despirmos desse orgulhosismo militante, esse puritanismo e esse hegemonismo. Precisamos do plebiscito, como instrumento de articulação política para vencer no senado, como bandeira de agitação e ampliação das mobilizações e como instrumento eficaz de repactuação democrática no país. Que o governo legítimo retorne e o povo decida a saída da crise e os rumos do país!

domingo, 12 de junho de 2016

nas noites às vezes
o que me salva é a poesia
no ocaso das angústias
da passagem de mais um dia

a vida as vezes é assim



A vida as vezes é assim
tira-nos a cereja
sem ao menos oferecer
uma colher para devorar
tamanho alimento para a alma,
oferece aquém da vontade
transcendendo para outros planos
essa necessidade essencial
de ser feliz
sem ao menos contar
com o que poderá de vir

a vida as vezes é assim
apresenta muito mais do que se espera
mas desse mesmo jeito
impede que tenha tal privilégio:
usufruir do prazer que carece
sem antes tornar-se carente.
veja então esse caminho
que a vida lhe põe a frente
se avança para além do que se pode
logo já se dá um passo atrás

coloca-te em teu lugar
essa é a vida
e as vezes
ela é assim.
















terça-feira, 24 de maio de 2016

ansiedade

Sentimento penetrante
se o coração é dos amantes
a incerteza tem seu âmago
entre o peito e o estômago

é como um aperto de dentro
a ansiosidade do tempo
não perdoa a vontade
dessa profunda necessidade

a esperança é a perdição
que reforça a emoção
parece até adrenalina
essa ânsia que não termina.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

caminho ao precipício

A caminhar pelos campos floridos, corri
Que erro! Cheguei ao precipício
E pra trás já não são as mesmas flores
Malditas! Me seduziram com seu aroma
Sua beleza me chamava a seguir em frente
Sem perceber continuei.


Agora é preciso achar outros caminhos,
e eu sei, eles existem
mas haverei de procurá-los
sendo estranhamente perturbado pelo cheiro
e a incrível beleza das cores.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Levante e lute



Tamo perdido por aqui numa realidade torta
procurando onde ir, desse caminho não tem volta

com tanto sentimento frio é preciso mais calor
pra acabar com esse ódio só distribuindo amor

a gente luta, a gente cansa, só nos resta a esperança
de ver um mundo melhor, no futuro das crianças

não desisto, eu batalho, é um labirinto sem atalho
cada dia uma função, e a esperança no assoalho
uma justiça seletiva e um fascismo descarado
cada dia uma surpresa, um absurdo inesperado

não tem vontade que segure
não tem paz sem atitude
o medo não é uma virtude
agora se levante e lute
agora fica esperto e lute
mas a história é mais que isso, a gente não desacredita
essa nossa resistência mantem a esperança viva
e nessa contradição o movimento é permanente
com a massa organizada o povo vence essa gente

essa gente recatada, sem respeito e elitizada
cheias de suas etiquetas e suas roupas de marca

agora querem repetir o que o passado já provou
a farsa já foi uma vez e a tragédia já chegou

a luta apenas começou e nos vamos resistir
isso não é novidade eles vão ter que engolir

não tem vontade que segure
não tem paz sem atitude
o medo não é uma virtude
agora se levante e lute
agora fica esperto e lute














quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Crise econômica brasileira: entre a falácia e o equívoco.

Temos visto crescer cada vez mais uma campanha midiática que tenta criar um clima de terror no país em relação à nossa economia. A tentativa desses setores é construir um falso cenário, cujo Brasil aparece como país isolado do mundo, de uma realidade completamente desconexa da economia e da crise mundial, responsabilizando exclusivamente a gestão do Governo Federal pelas dificuldades que hoje vivemos. Mas é só compreendendo o lugar do Brasil em meio à conjuntura internacional que poderemos entender as peculiaridades pelas quais passam a economia do nosso país.

Com uma breve comparação é possível contradizer os absurdos da imprensa: Dívida Pública do Brasil é bem menor do que a de outros países desenvolvidos. Em 2014 ficamos em 14° lugar, com uma dívida pública de 128% o valor do nosso PIB, enquanto que países como Japão (1° lugar), ficou com a dívida em 400% do PIB e os Estados Unidos (6° Lugar) com 233% do PIB. Nesse mesmo sentido, entre os anos de 2007 e 2014 (os anos de recessão, de crise econômica mundial, onde os países mais se endividam e os bancos mais lucram), o Brasil teve um aumento de 3% na Dívida Pública, enquanto a grande maioria dos outros países tiveram maior variação (com exceção de países subdesenvolvidos como Turquia e Indonésia que tiveram redução na Dívida), como o Reino Unido que teve um aumento de 50%, ou a Espanha com 92%!¹

Além disso, há de se destacar que no ano de 2011, ano em que a crise mundial já atingia diversos países, mas que ainda não havia chegado com forças no Brasil, tivemos um superávit primário de 3,11% do PIB  (isto é, o resultado da subtração de despesas e arrecadações do orçamento que servirá para pagamento de Juros da Dívida Pública), os Estados Unidos tiveram um Déficit primário de 7,8% do PIB e o Reino Unido de 5,7% (ou seja, houveram mais despesas do que arrecadação, com as contas públicas em negativo não houve sequer pagamento dos juros das dívidas).²

Essas são apenas algumas peças do complexo jogo econômico mundial, mas já podem nos colocar duas reflexões:

1- Quais interesses estão por trás de uma campanha midiática que sorrateiramente manipula as informações para construir a imagem de que no Brasil se faz pouco superávit primário, que não somos bons pagadores, de que o certo mesmo é guardar dinheiro para pagar juros à banqueiros? Enquanto que o resto dos países capitalistas desenvolvidos tem dívidas muito maiores, com maiores taxas de variação e que apresentam déficits primários em suas contas. Ainda que alguns países estejam agora diminuindo seus déficits, diz respeito à uma recuperação de economias que já foram devastadas, tiveram duros arrochos e recessão e agora tentam retomar o crescimento.

Claramente existe uma tentativa de desestabilização do governo, munidos da desinformação, para que se fragilize cada vez mais um projeto popular. Por um lado enfraquecendo o campo do governo da disputa política, abrindo espaço inclusive para um golpe em potencial, e por outro levando esse próprio governo a adotar políticas cada vez mais voltadas para os interesses do capital financeiro. E daqui vou à minha segunda reflexão.

2- É incompreensível que um governo que se edificou sobre bases populares, no momento de crise, gire sua política econômica, de maneira conservadora, para beneficiar o capital financeiro. E aqui temos três problemas gravíssimos: um esforço incólume do Governo para gerar superávit primário e pagar juros da dívida pública, um silêncio ensurdecedor em relação às ilegalidades na cobrança desses juros por parte dos bancos (não enfrentando por exemplo o debate de uma Auditoria) e uma taxa de Juros exorbitante, também muito superior às taxas de Juros pelo mundo a fora.

Muitos economistas afirmam que em períodos de recessão é natural que a diferença entre arrecadação e despesas se reduzam e se tornem negativas, pois os investimentos diminuem, a circulação do capital, o crédito, etc. Na grande maioria dos países afetados pela crise, ao contrário do Brasil, houve um aumento da dívida pública pra que se garantissem os investimentos necessários pra que a economia não esfriasse, claro que como nesses outros países a recessão foi ainda maior, isso veio acompanhado com uma série de retiradas de direitos dos trabalhadores e arrocho, mas ainda assim não houve superávit e as dívidas aumentaram substancialmente.

Enfim, a narrativa que se criou no Brasil (em especial pela grande mídia) em torno da crise econômica e que tem sido capitulada em partes pelo governo, é a de que é necessário reduzir gastos, inclusive em programas sociais e áreas fundamentais (como educação, saúde e previdência) para ajustar as conta, acumular o superávit primário e pagar juros ilegais. Ao invés de garantir mais investimentos em obras, rodovias, ferrovias, portos, serviços, na indústria nacional, que aquecem e movimentam a economia, o Governo preferiu fazer um duro ajuste que está aumentando o desemprego, aumentando a inadimplência, retirando direitos e prejudicando áreas sociais importantes, mantendo uma altíssima taxa de juros, que só beneficia os investidores estrangeiros, e nem assim conseguimos uma boa avaliação do mercado. O que eles querem é engolir o Brasil, e enquanto não retomarmos o desenvolvimento, não superaremos a crise.


Referências:
¹ - http://www.cartacapital.com.br/revista/887/o-monstro-nao-e-tao-feio
² - http://estaticog1.globo.com/2014/01/superavit/images/mapa_superavit.jpg

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O acesso à Universidade Pública. Boas vindas aos calouros!


Uma das maiores alegrias na vida de muitos jovens é poder ter acesso ao Ensino Superior, daí a euforia que assistimos todo inicio do ano com muita alegria por todos aqueles que são aprovados no processo seletivo e passam então a ingressar nas diversas universidades. É o inicio de um novo ciclo em nossas vidas, que são também resultado de muita dedicação e esforço e que nos abrem um horizonte de expectativas e de novas experiências que alteram consideravelmente nossa forma de ver o mundo e se relacionar com as pessoas.

Acessar a universidade é bem mais do que ter a possibilidade de assistir aulas e ao final do curso obter um diploma. É uma experiência completamente nova que nos apresenta à uma enormidade de novos elementos pra ampliarmos nosso conhecimento do mundo, cabe a nós saber aproveitá-los e fazer desse novo ciclo algo muito maior do que a básica sala de aula.

Ter acesso ao ensino superior - em especial à universidade pública -  é um privilégio ainda de poucos. Mas é importante destacar que muita coisa mudou, basta que essa nova geração de calouros questione os seus pais sobre como era a entrada na universidade há 15 ou 20 anos atrás. Ou até mesmo há menos tempo, os veteranos que hoje se formam, viveram a metade do ciclo de expansão das universidades públicas, foram os primeiros a terem acesso à Assistência Estudantil, mas pouquíssimos deles tiveram acesso à universidade pelo ENEM/SISU, tampouco conheceram as Ações Afirmativas como são hoje. Todas essas conquistas transformaram o cenário das universidades públicas em algo novo, mais popular.

Hoje, temos Instituições Federais de Ensino Superior com muito mais professores doutores, mais projetos de pesquisa e extensão, mais cursos noturnos, com mais negros e negras, indígenas, estudantes oriundos de escola públicas, temos mais diversidade! E nada disso faz parte de um processo natural, mas de um acumulo de lutas de décadas dos estudantes e do povo brasileiro que tem alterado substancialmente a realidade da nossa educação. E se muito conquistamos no que tange à ampliação de vagas e acesso, muito ainda temos para conquistar, a maior parte da juventude ainda está fora da universidade e muitos dos que entram ainda tem dificuldades com condições materiais de se manter estudando, e por isso precisamos de muito mais investimento e políticas de Assistência e Permanência estudantil. Essa nova geração tem a possibilidade histórica de concretizar grandes vitórias do último período, a efetivação do Plano Nacional de Educação com os 10% do PIB investidos nesse setor com financiamento dos Royalties e o Fundo Social do Pré-Sal, são fundamentais pra avançarmos ainda mais.


Nós veteranos, que já passamos um dia por essa euforia, parabenizamos e reconhecemos a vitória de cada calouro que acaba de ingressar na universidade. Mas todos nós - calouros e veteranos - devemos reconhecer as conquistas coletivas que ampliaram a participação da nossa juventude dentro da universidade, e saber que só continuando nossa luta, valorizando esse espaço, extrapolando os limites da sala de aula, construindo o debate político e a produção de conhecimento à serviço da sociedade e do desenvolvimento do nosso país que faremos jus à nossa passagem pela educação superior. Assim deixaremos nosso legado de transformação social, afinal esse deve ser o papel da universidade.
Longe de você
percebo a contradição
a saudade que dói
também catalisa a paixão

O Sol

Vejam só,
certas coisas na vida
são como o sol
imensamente cintilantes

mas basta que algo
tão pequenino quanto a lua
ou tão esparso quanto as nuvens
surjam pra apagar seu brilho.