Recentemente ando me indignando mais com o atitudes de
militantes que se autodenominam de esquerda do que com os reacionários e
conservadores. Justamente porque, os primeiros, em toda sua certeza, insistem
em se auto-proclamar os detentores da verdade revolucionária e dos únicos meios
corretos que levarão a humanidade a sua emancipação, enquanto desconstroem
outros grupos que há décadas acumulam debates no campo da esquerda, com
argumentos e informações falsas e colocações supérfluas, que ignoram o debate de
ideias para tergiversar em acusações levianas.
Hoje quanto acessei a internet vi várias pessoas
compartilhando um link (http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_secao=186&id_noticia=128858)
do site do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), pessoas essas que tinham em
comum a militância em campos de esquerda de oposição ao projeto político do meu
partido. Esse link dá acesso a uma notícia na qual o PCdoB estaria apoiando o
Governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) para uma nova candidatura.
Em um primeiro momento eu me assustei e tive um momento de decepção, tendo em
vista que esse foi um dos governadores que mais repreendeu as manifestações
populares recentes.
No momento seguinte, como um bom leitor atento, olhei a data
da notícia. Mas quem diria! Minha decepção se transformou em reafirmação de
princípios e concepções, a noticia é do dia 5 de Maio de 2010, isto é, há mais
de dois anos atrás. É de fato uma pena que o PCdoB esteja na base de um
governador que vem tomando, nos últimos meses, posicionamentos extremamente
equivocados em relação aos movimentos sociais.
Entretanto nada justifica a veiculação dessa informação,
feita de forma distorcida e mentirosa na tentativa de afetar um partido, não o
DEM, PSDB, PSD e nem mesmo o PMDB, mas o PCdoB. Tal fenômeno demonstra, não só
a falta de atenção e a leitura superficial de conteúdos por parte de algumas
pessoas, mas também atitudes de má fé que retomam a crítica que fiz no inicio
desse texto: argumentos falsos e colocações supérfluas, que ignoram o debate de
ideias para tergiversar em acusações levianas.
Utilizou-se de uma notícia antiga, reposicionando-a no tempo
para lhe conferir um novo sentido, tirando-a de um contexto para outro
completamente diferente, criando um factoide político que de nada contribui
para um confronto ideológico, mas que tenta desconstruir, de forma superficial
e maniqueísta, a imagem de um partido que tem décadas de acumulação teórica e
de contribuição prática para os movimentos sociais e para os avanços do país.
Atitudes dignas das redes do oligopólio midiático brasileiro
(VEJA, Estadão, Globo, Bandeirantes, SBT, Record, etc), que manipulam
informações, com o conteúdo a priori
verdadeiras, mas que lhe dão outro sentido ao deslocar o seu contexto ou o ponto
de vista do qual é contada, renovações de sentido que só servem a interesses
próprios, corporativistas e reacionários. As maneiras mais baixas de se debater
política, descaracterizando falsamente o adversário político para causar
repulsa dos espectadores em autobenefício.
Eu poderia até acreditar que isso é fruto tão somente de uma
indignação por parte das pessoas ao assistirem um partido de esquerda respaldando
ações repressivas aos movimentos sociais, mas – sem generalizações – grande parte
daqueles que estavam dando ênfase e vinculando essa falsa informação tem
interesses muito bem consolidados. E pasmem, são grupos do campo da esquerda e
simpatizantes, que não tiveram todo esse ímpeto ao PMDB ou o próprio Sérgio
Cabral pela repressão ampliada por suas próprias ordens. Cabe destacar que a
repressão é inata ao estado burocrático burguês, como próprio Marx afirmava “o
estado será sempre a ditadura de uma classe sobre a outra”, logo enquanto não
alcançarmos uma sociedade socialista, isso será algo que teremos que enfrentar
constantemente, vezes ainda mais acentuadas pelos gestores outras amenizado.
Enfim, toda essa confusão me deixou inquieto – esse texto
serve também como um desabafo - mas ao final reafirmou mais uma vez minhas
posições e concepções. Estive em uma semana de curso e estudos intensos
debatendo a teoria e a política da União da Juventude Socialista, onde tive a
oportunidade de ver camaradas repudiando a recente relação de Sérgio Cabral com
os movimentos sociais, e me é profundamente estranho ter de debater com
posicionamentos maniqueístas que insistem em desestimular o debate ideológico e
simplesmente ignorar todo trabalho e desenvolvimento teórico construído em
fóruns que constroem projetos, métodos e concepções diferentes,
transformando-as em “bichos de sete cabeças”, como se estivessem ali, nos
espaços de disputa política, somente por puro oportunismo e por um sei-lá-o-que
sem fundamento.
Debato e construo meu partido em seus fóruns internos,
repúdio as ultimas ações de repressão e negligência de Sérgio Cabral com as
manifestações populares e com certeza seria contrário caso meu partido se
posicione a favor de continuar construindo esse nome para as outras eleições (entretanto
é impossível que ele seja eleito novamente para o Governo do Rio de Janeiro,
vejam só, mais um erro de leitura e interpretação, Cabral já foi eleito duas
vezes). Mas tenho certeza que o PCdoB e a UJS são contra qualquer tipo de
repressão à movimentos populares, até porque faz parte desses movimentos e tem
como bandeira de defesa a desmilitarização da polícia.
Milito com muito orgulho na União da Juventude
Socialista e no Partido Comunista do Brasil, carrego em meu sangue a disposição
e compromisso com esse projeto revolucionário e humanizador. Luto pela
democratização da mídia, pela reforma política, pela reforma agrária, contra
qualquer tipo de discriminação, por mais educação e saúde ao povo brasileiro,
por mais oportunidades, pelo fim do pagamento da dívida externa, enfim, luto
pelo Socialismo. Tenho princípios ideológicos próprios, e ninguém há de retirar
isso de mim. Mas carregarei sempre comigo uma frase da Deputada e ex-militante
da UJS, Manuela D’avila: "Aprendi em tantos anos de luta a não me tornar
igual aos que combato".
Viva a luta popular!
Viva o Partido Comunista do Brasil!
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