quarta-feira, 8 de abril de 2015

Tempos nebulosos.


Ontem, em várias capitais do Brasil, mas com expressão máxima em Brasília, no Congresso Nacional, onde se votava o requerimento de urgência para o Projeto de Lei das Terceirizações (PL 4330/04), as movimentações das centrais sindicais, da UNE, dos sindicatos e outros movimentos sociais, nos chamou mais uma vez à necessidade de refletir sobre o momento político que vivemos.

Talvez a melhor declaração que li até agora acerca desses episódios tenha sido da Deputada do PCdoB, Jandira Feghali, que diz: "Clima tenso no Parlamento durante protesto de trabalhadores contra precarização prevista no PL 4330. Truculência contra trabalhador! Como se viu, nenhum manifestante a favor do golpe surgiu para defender os trabalhadores da precarização do PL 4330. Nenhuma 'camisa da CBF', nada. As centrais se mantiveram presentes, firmes, na luta pelos direitos de todos. O PCdoB também".

Essa é, sem dúvidas, uma das batalhas mais arduas e mais importantes que os/as trabalhadores/as enfrentam atualmente. E elucidam com maior nitidez o enfrentamento ideológico que está se estabelecendo entre campos distintos da população brasileira, e nos desafia ainda mais à compreensão das articulações no governo brasileiro.

Disso, podemos tirar três constatações:

1- O PL das Terceirizações é um ataque tremendo e bizarro aos trabalhadores, que além de atingir diretamente aos seus direitos que regem os serviços aos quais dedicam a maior parte da sua vida - seu emprego - ainda afetam um dos valores simbólicos mais fortes da classe trabalhadora, que são a conquista e a sustentação histórica desses mesmos direitos.

2- Fica claro a divergência de interesses dos que estiveram na rua no dia 13 de Março e dos que estiveram no dia 15 (inclusive apoiados por Deputados que são favoraveis ao PL4330). Quem de fato está em defesa dos trabalhadores e do povo pobre? (e não preciso nem falar do nem-nem, que se não estiveram nem do dia 13 e nem no dia 15, muito menos estiveram nas ruas contra o PL das terceirizações)

3-Existe hoje um congresso de conservadorismo tremendo, que tem atacado sistematicamente direitos adquiridos. É triste pra quem nos últimos anos lutava por cada vez mais avanços, ter agora que resistir contra retrocessos. Congresso esse articulado sobretudo pelo PMDB - e aliados, bem como forças políticas não partidarizadas, empresários, imprensa, etc -, que se tornou um verdadeiro Kraken (aquele monstro marinho mitológico gigantesco com tentáculos) que estende seus tentáculos à todas instituições, na tentativa de obter o controle total do poder político no país e desestabilizar o governo, e as forças progressistas.

Os movimentos sociais tem tentado dar o seu recado, com o último artificio que ainda resta à luta das massas estudantis e trabalhadoras: a rua. Afinal, na comunicação se estabelece um monopólio duro como diamante e difícil de se quebrar (também um Kraken, só que esse com pele de titânio) e um congresso com maioria conservadora, sem representação dos grupos marginalizados e oprimidos. Afinal, onde está o governo eleito pelo projeto progressista e de esquerda vencedor nas urnas em outubro de 2014? Essa que poderia ser nossa maior e mais poderosa ferramenta, se mostra cada vez mais acuada e inundada por articulações que ultrapassam os limites da necessidade e que nos fazem refletir até mesmo sobre possíveis conveniências.

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