terça-feira, 17 de novembro de 2015

O meu lugar no mundo

Sempre que eu participo de atividades de grande porte do Movimento Estudantil (em especial do secundarista) e me deparo com tanta diversidade me coloco à reflexão.

Pra lutar por um mundo mais justo pra todos e todas precisamos antes de tudo de reconhecer o lugar que ocupamos na sociedade. Nunca passei fome, sempre tive acesso à cultura e ao lazer, à uma boa educação (ainda que em escola pública, mas federal), uma família bem estruturada e especialmente pais que me deram boas condições de formação durante toda minha vida. Sou, homem, branco e hétero, por isso nunca sofri nenhum tipo de discriminação significativa em minha vida.

Mas acreditar em dias melhores vai muito além do que somos nós mesmos. É enxergar no outro as possibilidades do que melhor a vida tem a oferecer. É querer mais do que sua própria felicidade, é querer bem às pessoas ao seu redor. Reconhecer nossos próprios privilégios não é e não deve ser uma barreira que nos impeça de querer acabar com eles, pois numa sociedade onde são dadas condições e oportunidades justas a todos não haveria privilégios.

Se reconhecer é também saber de onde partir e pra onde ir no curso das lutas políticas. Não preciso ser pobre pra lutar pra lutar contra a má distribuição de renda, não preciso ser mulher pra lutar contra o machismo, nem negro pra lutar contra o racismo ou LGBT pra lutar contra a LGBTfobia. Tampouco conseguirei compreender dentro da minha realidade individual as opressões que a sociedade exerce sobre quem se encaixa nessas características (Obviamente levando em consideração o recorte de classe).

Quem se finge de pobre pra dar cabo à luta anti-capitalista, ou quem diz que os homens são tão vítimas do machismo como as mulheres, por exemplo, não compreendem seu lugar na luta política e tentam se auto-identificar de uma maneira que não representa a experiência que lhe deu formação. Aqueles que tem privilégios jamais saberão as dores dos que sofreram por não tê-los, e tentar colocar-se no lugar dos oprimidos é, não só um equívoco, mas um desrespeito.

Por isso mantenho minha militância de queixo erguido e peito aberto. Reconheço meu lugar, de onde vim e pra onde quero ir. Mas sobretudo respeito quem não teve as mesmas condições que tive. E sei que só contemplando toda essa diversidade de vivências e experiências poderemos construir uma teoria, e consequentemente, uma luta prática que nos encaminhe pro enfrentamento concreto e pro desenvolvimento real de uma sociedade mais justa e igualitária.

Por isso cada vez que a militância da UJS se reúne eu me emociono. São brancas/os, negras/os, pardas/os, indígenas, da periferia, do centro, do interior, do sul ao norte/nordeste, heterossexuais, LGBTs. E são pessoas que, sobretudo, tem espaço na discussão e na formulação de nossa política, e esse sem dúvidas é um dos elementos mais fortes pra se ter uma leitura mais refinada das complexidades de nosso mundo.

Ser da UJS é ser você mesmo e ser vários e várias ao mesmo tempo.

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