segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sobre a escrita e as formas

Ele queria escrever algo que fizesse sentido. Ou melhor até, que desse sentido. Mas o que ele por certa vez compreenderia é que escrevia porque aquilo lhe dava sentido. Não sabia muito bem o que era que estava escrevendo, seria um conto, uma poesia, um conto, um ensaio ou uma crônica? Poderia ser simplesmente sua opinião. Mas são tantas formas, inúmeros conceitos, encaixes.

O que ele queria mesmo era saber de si mesmo por fora. E que o mundo também soubesse. Afinal, qual sentido de escrever se não for para ler. Para ler a si mesmo, talvez. E que para lendo a si mesmo, talvez ficasse mais fácil ler o mundo - e escrevê-lo.

Para quem, quando não para ele mesmo, não fazia sentido algum. Ou pelo menos parecia que não fazia. Difícil mesmo é saber o que pensam. Porque temos essa curiosidade incessante, desleal, avassaladora de querer o tempo todo saber o que esperam de nós? Ou o que nos mesmos esperamos que esperem. Se ele escreve, é para que dele esperem alguma coisa, mas como saberá ele o que esperam? Complicada equação.

E por querer mesmo que esperem alguma coisa é que se apegam a essas tantas formas. Mas não qualquer uma, é preciso impressionar. Ou então o que vão esperar? Se não tens o dom e a potencialidade de não se resumir à pura mediocridade da vida comum, das coisas simples, de seu próprio formato. Mas é preciso ser incauto, ser culto, é preciso ser bem antenado ao poder das artes superiores - e suas formas.

Mas do que é que eu estou falando? Se o critério é necessário, e a prática conduz à verdade. A forma reduz o poder da sensibilidade do ser, de produzir de (se) reproduzir. De praticar não a sua verdade - tal sentença seria um sacrilégio à materialidade - mas de buscar na leitura de sua própria prática, por onde encontrará a si mesmo. Já a verdade nos guia como o mito utópico da linha do horizonte, ali está, e lá precisamos chegar, mas até quando? A única certeza que temos, é que de qual ângulo olhares, uma diferente visão terás.

E é por isso que ele escrevia. Porque sua própria leitura sobre sua prática já não lhe bastava, era preciso mais ângulos, mais olhares! Não porque ele se apoiava no que diziam, mas porque compartilhando a suas reflexões, talvez pudesse fazer também outras pessoas refletirem. E não seria esse o nosso grande objetivo, gerar reflexões? É nessa realidade que cabem as letras, ditas, escritas como bem devem para ser entendidas, e não tão somente em formas programadas.

A forma nos permite criar. Mas só sua ruptura nos permitirá refletir.

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